Se a vida não está fácil para você, leitor, imagine para o presidente da cervejaria artesanal Colorado, Marcelo Carneiro, que garante ser a falta de democracia a razão para o seu maior e mais recente problema: a tabela de tributação de bebidas frias. Inspirado no livro “O Capitalismo no Século 21”, do economista francês Thomas Piketty, o empresário acredita que colocar grandes cervejarias no mesmo balaio de impostos das artesanais compromete a liberdade de oportunidades assegurada pelo regime democrático.
Filosófica ou não, é a ideia defendida pela Associação dos Micro e Pequenos Cervejeiros, liderada por Carneiro. Ele encabeça o manifesto da categoria, que deseja ser ouvida pelo poder público na tomada de decisões, inclusive no que diz respeito à tributação, alterada recentemente pelo governo e palco das discussões do segmento. “O reajuste não é feito de forma transparente. As pequenas cervejarias não são convidadas para essas discussões, o governo só fala com as multinacionais. Não entendo a razão, pois somos um produto 100% brasileiro. Por isso formamos a associação, para sermos notados.”
Enquanto a Colorado, com sede em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, produz 140 mil litros de cerveja em um mês e bonança econômica, uma grande empresa libera para o mercado, segundo ele, cerca de 150 milhões no mesmo período. De acordo com Carneiro, cobrar o mesmo imposto para perfis tão diferentes compromete a existência das micro e pequenas cervejarias. “Se sobe R$ 0,24 centavos para as grandes cervejarias, por exemplo, para nós equivale a R$ 4, isso na base da produção. Quando chega ao consumidor final, nem consigo mensurar o quanto vai aumentar. Isso vai nos tirar do mercado”, explica.
Para não recuar na produção, a Colorado precisou intensificar as exportações. Presente nos Estados Unidos, França, Nova Zelândia, Canadá, Japão, Inglaterra, Noruega, a cerveja tem sido bem aceita, de acordo com o empresário, inclusive pela sua peculiaridade: a base dos produtos Colorado envolvem ingredientes como mandioca, rapadura e mel.
Carioca, Carneiro deixou o Rio de Janeiro e se mudou para Ribeirão Preto, cidade igualmente calorenta, em busca de água boa e cultura cervejeira para abrir a Colorado. Desde que conheceu o mercado das cervejas artesanais, que começaram como presentes e suvenires e chegaram ao ápice atual de carona na tendência da “gourmetização”, se engajou na luta por um reconhecimento justo de seu nicho.
“Nossa legislação atual é feita para gigantes. E o lobby contra o nosso crescimento existe. É hora de lutar contra isso. Agora que nos organizamos, cervejarias maiores se aproximaram para discutir essa questão dos tributos. Eles têm ouvido mais a gente do que o governo. É uma aproximação positiva, discutimos a progressividade. Camaradagem, né?”, conclui Marcelo.