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Home  /  Saideira  /  Grandes Bebedores: Vinicius de Moraes
02 junho 2014

Grandes Bebedores: Vinicius de Moraes

Escrito por Jeferson de Sousa
Saideira Comentários estão off

Ele bebia enquanto contemplava e contemplava enquanto bebia. Numa dessas, olhou para o rótulo de Black & White, um dos seus whiskies preferidos, e encarou o par de Terrier escoceses que o ilustrava. Então, vaticinou: “o whisky é o melhor amigo do homem; o whisky é o cachorro engarrafado”.

Beber para Vinícius era uma força motriz. Não era apenas um sujeito que se embriagava depois de um dia de trabalho. De seus porres nasceram algumas das maiores obras-primas da música brasileira. Mas criava porque era gênio e não apenas porque entornava hectolitros de malte escocês – portanto, aconselhamos que ninguém tente fazer o mesmo.

Um de seus companheiros mais assíduos – de copo e de composição – era Tom Jobim, que até chegou a colocar em dúvida se era possível aguentar tantas doses quanto as que entornavam diariamente. Ao que Vinícius retrucou com uma tese um tanto polêmica:

“O corpo tem de aguentar. O corpo é o laboratório que tem de destilar esse negócio e transformar o álcool em energia. Porque o sangue só corre bem nas veias quando tem bebida.”

Era 1960 e estavam em Brasília, para onde tinham ido a convite de Juscelino Kubitschek, que encomendara aos dois a “Sinfonia da Alvorada”. Nessa época a Bossa Nova já fazia sucesso e Tom e Vinícius já eram bem conhecidos devido as canções da peça “Orfeu da Conceição”, que estreara quatro anos antes.

Em 1956, quando se tornaram parceiros, a dupla bebia até que moderadamente. Ok, Tom bebia moderadamente. A história que se conta pelos quatro cantos da orla carioca é que, no começo dos trabalhos de “Orfeu da Conceição” a coisa não estava engrenando. Foi quando Vinícius resolveu abrir outros trabalhos e convidou Tom para um whisky. E daí brotou “Se Todos Fossem Iguais a Você”, que foi seguida por “Lamento do Morro”, “Um Nome de Mulher” e outras mais. Como se sabe, a peça foi um sucesso de crítica e público.

Quatro anos depois – inverno de 1962 – estavam Tom e Vinícius em um bar de Ipanema, tomando seu sagrado whiskezinho, quando passa aquela menina esbelta, longos cabelos e olhos verdes. Os dois acompanham o seu balançado e voltam para os seus copos. Não, eles não olharam um para o outro e cantarolaram “olha que coisa linda, mais cheia de graça…”. Mas daquele momento nasceria uma das mais famosas canções de todos os tempos. Ah, sim: o bar se chamava Veloso e anos depois foi rebatizado como Garota de Ipanema.

Apesar de parceiro assíduo e de longa data, é provável que Tom nem tenha sido aquele que mais entornou em companhia de Vinícius. Reza a lenda que, naquele mesmo 1962, Vinícius e o violonista Baden Powell teriam ficado trancados no apartamento do primeiro durante noventa dias compondo 25 parcerias, entre elas, os clássicos “afro-sambas” (“Berimbau”, “Canto de Ossanha”, só para citar os mais conhecidos). Nesses três meses – e aí a conta é do próprio Vinícius – teriam consumido 240 garrafas de whisky Haig. Isso mesmo: 240 garrafas.

Em uma época em que importar um bom scotch era um processo complicado, essa quantidade (20 caixas) só chegou ao apartamento de Vinícius graças às facilidades diplomáticas. Porque se ele foi poeta por vocação, teve de ser diplomata por necessidade. Como tal, serviu em Los Angeles, Paris e Montevidéu. Mas as funções consulares nunca foram o seu forte. Ao longo da carreira, ele criou os mais variados subterfúgios para poder se dedicar ao que realmente interessava: a poesia, a boemia e a bebida.

Como era de se esperar, houve um momento em que seus empregadores notaram a acintosa falta de dedicação – ainda mais depois de 1964, quando o regime militar tomou o poder, o que colocou Vinícius, um sujeito com amizades esquerdistas, em uma saia justa. Em 1969 o então marechal-presidente Costa e Silva despachou um memorando seco para o corpo diplomático:

“Assunto: Vinícius de Moraes. Demita-se esse vagabundo. Ass. Arthur da Costa e Silva. ”

Depois disso, Vinícius se viu livre para fazer o que mais gostava: ser Vinícius. Começou uma bem-sucedida parceria musical e etílica com Toquinho. Mudou-se para Salvador, onde, segundo o artista plástico Calazans Neto, um de seus melhores amigos, colocavam em prática o saudável exercício de “não fazer nada”.

Tônia Carrero dizia que Vinícius era um camarada que viveu de paixões (“Quando uma paixão tomava conta dele ele se tornava inigualável”). Era assim com os amigos e com as mulheres. Principalmente as mulheres. Teve nada menos do que nove.

Um jornalista veterano com quem trabalhei me contou a seguinte história sobre Vinícius:

Aniversário dos 15 anos de “Garota de Ipanema” e ele, na época um jornalista iniciante, é escalado para entrevistar Vinícius. Marca a entrevista com antecedência e, no dia combinado, vai ao apartamento do poeta. A empregada abre a porta e avisa que Vinícius estava dormindo. Um certo constrangimento no ar, o repórter insiste. Meia hora depois Vinícius aparece vestindo um hobby, com um mau humor explícito. O repórter tenta entabular algumas perguntas, mas a entrevista não flui. A certa altura, Vinícius desabafa:

“Camarada, estou com uma ressaca medonha. Tomas um gin comigo?”

O repórter aceita o convite. Depois do primeiro copo o poeta se transforma. Responde a todas perguntas de bom humor e finaliza a entrevista cantando “Garota de Ipanema”.

Impossível não gostar de um sujeito assim.

 

 

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Jeferson de Sousa

Jeferson de Sousa tem 26 anos de jornalismo e é bebedor contumaz (não confundir com alcoólatra, por favor). Já escreveu para dezenas de jornais e revistas. Entre eles, O Estado de S. Paulo, Bizz, Sexy, Vip e Playboy, da qual foi editor-chefe por sete anos. Acha que o mundo era melhor com Hunter S. Thompson e Tarso de Castro e, quando encontra um barman que sabe preparar um Negroni de verdade, sempre lhe dá um abraço sincero.

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