Hollywood sempre esteve repleta de belas atrizes. Poucas, no entanto, se comparam com Ava Gardner. Uma estrela tão fantasticamente linda que ficou conhecida como “o animal mais belo do mundo”. Mas, por trás do rosto perfeito, havia uma mulher indomável, dona de uma personalidade marcante. Ava conquistava, amava, brigava e bebia com os seus homens. De Mickey Rooney a Frank Sinatra, passando por Artie Shaw, Howard Hughes e Marlon Brando, não foram poucos os que sucumbiram aos seus encantos.
Ava Gardner nasceu na Carolina do Norte em 24 de dezembro de 1922. Era a sétima filha de um casal de fazendeiros. Aos 18, dois anos depois da morte de seu pai, foi visitar a irmã, Beatrice, em Nova York. Imagine uma garota espetacular parando o trânsito da 5th Avenue. Essa era Ava. Entre as pessoas que ficaram impressionadas com a beleza daquela adolescente estava o marido de Beatrice, o fotógrafo Larry Tarr. Foi ele que a convenceu a fazer uma sessão de fotos, que foram depois penduradas na vitrine de seu estúdio.
E eis que um funcionário da MGM, um dos maiores estúdios de Hollywood, passeava por Nova York quando deu de cara com as fotos daquela morena de olhos verdes, boca carnuda e rosto irretocável. Depois de soltar um “uau”, ele foi perguntar ao dono do estúdio quem era a moça e a convidou a conhecer Hollywood. Beatrice e Larry convenceram Ava de que ela deveria tentar a carreira no cinema. E assim nasceu um mito.
Em 1941 Ava assinou um contrato de sete anos com a MGM para ganhar 50 dólares por semana. Não sabia dançar, não sabia cantar e quando abria a boca todos riam de seu sotaque carregadamente sulino. Mas a beleza da moça deixou todos boquiabertos e o estúdio investiu em uma espécie de “reeducação”. Incontrolavelmente tímida, Ava só conseguia encarar as câmeras quando tomava um drink. O que, aliás, fazia com muito gosto.
Foram longos cinco anos até que protagonizasse um grande papel. Isso aconteceu o filme “Assassinos”, cujo ator principal era um jovem galã chamado Burt Lancaster. O longa colocou Ava definitivamente no star system de Hollywood. Depois disso ela estrelaria “Mercador de Ilusões” (1947, ao lado de Clark Gable), “O Barco das Ilusões” (1951), “As Neves do Kilimanjaro” (1952), “Mogambo” (1953) — que lhe valeu uma indicação para o Oscar de Melhor Atriz — e “A Condessa Descalça” (1954). Com o final de seu contrato com a MGM, em 1958, Ava passou a receber convites mais esparsos para atuar, como em “A Noite do Iguana” (1964), a adaptação da peça de Tennessee Williams com Richard Burton no papel principal.
Mas entre a assinatura do primeiro contrato e “A Noite do Iguana” muitas águas — e drinks — rolaram na vida de Ava. Logo depois de ter pisado em Hollywood, por exemplo, conheceu Mickey Rooney, seu primeiro marido. Rooney, na época com 21 anos, já era um astro – nas telas, formara um par com Judy Garland e tinha uma sólida carreira como comediante. No dia que Ava o conheceu, Rooney estava vestido de Carmen Miranda — saia, brincos e turbante de frutas incluso. Ficou maravilhado com Ava e seus 19 anos. Durante seis meses fez a corte, até que ela aceitasse se casar com ele, o que aconteceu em uma capela de Santa Monica. Seis meses depois estavam divorciados. Nunca falaram muito sobre o que ocorreu mas, anos depois, Ava chegou a insinuar que poderia ter faltado “pegada” ao jovem Rooney. Faz sentido quando se sabe que a atriz, no futuro, colecionaria em seu portfólio tipos viris como Frank Sinatra.
Após se separar de Rooney, Ava ficou famosa por viver rodeada de homens em bares de Hollywood e por ser vista constantemente na companhia do excêntrico milionário Howard Hughes. Se o mundo segue conservador hoje, imagine nos anos 1940. Sobre Hughes, Ava revelou em suas memórias: “Eu não sabia quase nada sobre ele e suas excentricidades. O que posso dizer é que, mal me separei de Mickey, Howard entrou na minha vida e nos 15 anos seguintes não consegui tirá-lo dela. Não importava se eu estivesse com alguém ou não”. O mais curioso é que eles nunca tiveram um caso. Não por falta de investidas do magnata, claro. Aparentemente ele foi dissuadido da ideia depois de ser nocauteado por Ava com um cinzeiro de mármore.
Em 1945 ela conheceu Artie Shaw, o popular bandleader de um grupo de jazz. Apesar de considerá-la fabulosa, Shaw tentou transformar Ava em uma intelectual refinada e chegou mesmo a fazer uma lista de livros que, segundo ele, a tornariam uma pessoa mais culta. Também achava que Ava tinha sérios distúrbios psicológicos. Não podia dar certo: o casamento durou um ano.
No final dos anos 1940 ela conheceu Frank Sinatra. Na época, o cantor era casado e foi preciso dois anos até que ele conseguisse o divórcio. Os dois se casaram em 1951 e pareciam ter nascido um para o outro: bebiam demais, brigavam em público por causa de ciúmes de ambos, bebiam mais um pouco, iam para o quarto onde passavam dias, bebiam e brigavam de novo. Entre idas e vindas, o casamento durou até 1957. Frank e Ava, entretanto, nunca esconderam que um era a paixão do outro.
Em meados dos anos 1950, pouco antes da separação definitiva de Sinatra, Ava foi morar na Espanha. Lá, aprendeu a dançar Flamenco, teve aulas de tourada e era frequentemente fotografada na companhia de toureiros famosos. Em 1961 resolveu mudar de cardápio e começou um romance com Claude Terrail, um famoso playboy francês e proprietário do badalado restaurante parisiense La Tour D”Argent. Quando o caso terminou, Terrail confessou: “Tive de desistir; ela era muito perigosa para mim”.
A perigosa Ava mudou-se para Londres em 1968. Ali morou até sua morte, em 25 de janeiro de 1990, vítima de complicações pulmonares. Em 1986 já havia sofrido um derrame que a deixara parcialmente paralisada. Em entrevista pouco antes de morrer, fez um balanço de sua vida com o jeito sulista que nunca perdeu de fato: “Me diverti pra valer, então posso dizer que hoje tenho, bem, um rosto vivido. Você nunca vai me encontrar chorando diante do espelho.”