Ninguém precisa ser cozinheiro para gostar de receitas ou livros a respeito de como preparar bons pratos. Principalmente se os autores de tais obras forem mestres da escrita. Fizemos uma seleção de livros que você não vai se arrepender de ter na sua estante. Ou na sua cozinha.
1. O Grande Dicionário de Culinária – Alexandre Dumas
Sobre “O Grande Dicionário”, o novelista e ensaísta francês André Maurois anotou: “Dumas passou o verão de 1869 na Bretanha, na aldeia de Roscoff. Buscava um lugar tranquilo para escreve uma obra culinária, encomendada pelo editor Alphonse Lemerre. Em março de 1870, o manuscrito (inacabado) do Grande Dicionário de Culinária foi entregue. Essa obra monumental só viria a ser publicada depois da guerra, com a colaboração inesperada de um jovem escritor: Anatole France.”
Dumas, mais conhecido pelos clássicos “Os Três Mosqueteiros” e “O Conde de Monte Cristo”, era um apaixonado pela cozinha. Sua proposta de fazer um livro definitivo sobre o assunto é pretensiosa, mas pode-se dizer que ele quase chegou lá. A monumental obra contém 615 verbetes (entre crônicas, cartas e descrições científicas) e cerca de 400 receitas, que vão do clássico da gastronomia francesa até pratos de outros países que Dumas considerava curiosos.
2. Pois Sou um Bom Cozinheiro – Vinícius de Moraes
Pouca gente sabe, mas além de ser bom de copo, Vinícius também era bom de garfo. O livro, organizado pela família do poeta e fartamente ilustrado com fotos e fac-símiles, reúne cartas, trechos de poemas e crônicas, além, claro, de muitas receitas. Trata-se de uma “biografia gastronômica” com pratos da infância, clássicos da culinária nacional e variações de pratos populares. Está dividido em três partes: “Receitas de Casa”, que relembra a infância de doces e quitutes da casa materna; “Receitas da Rua”, com uma compilação de pratos dos bares e restaurantes frequentados por Vinícius (como o Arroz de Pato do Antiquarius) e “Receitas da Obra”, com material recolhido de composições, poemas e cartas. Há trechos antológicos, como a carta que Vinícius escreve para Tom Jobim informando o que pretendia cear quando chegasse ao Brasil ao regressar da França. “Para o jantar, uma galinha ao molho pardo, com um arroz bem soltinho – e papos-de-anjo. Mas daqueles como só a mãe da gente sabe fazer; daqueles que se a pessoa fosse honrada mesmo só comeria metida num banho morno, em trevas totais, pensando no máximo na mulher amada. Por aí você vê como eu estou me sentindo: nem cá nem lá.” Só por isso já vale a leitura.
3. Não é Sopa – Crônicas e Receitas de Comida – Nina Horta
Conhecimento culinário e erudição, quando andam juntos, são algo bacana de se ver. Ou melhor, de se ler. Nina Horta, por exemplo. Desde 1987 ela tem sido responsável por alguns dos momentos mais saborosos do jornal “Folha de S. Paulo”. Saboroso no duplo sentido, tanto pelo tema, a comida e suas variações, quanto pelo texto. “Não é Sopa” reúne escritos e receitas de Nina no jornal e apresenta um vasto mosaico de temas – do uso do whisky na cozinha ao que fazer com o caroço da azeitona durante a refeição, passando pela técnica de matar uma galinha e a receita de sopa da Mafalda, a famosa personagem dos quadrinhos.
4. Dois na Cozinha – Receitas e Relembranças – Lillian Hellman e Peter Feibleman
De um lado, Lillian Hellman, escritora laureada, dramaturga premiadíssima. Do outro, Peter Feibleman, também escritor, roteirista mais conhecido pela série “Columbo”. Em comum entre os dois, uma amizade profunda e duradoura, a cidade de New Orleans (onde Lillian nasceu e Peter foi criado) e a cozinha. Dividido em “À moda de LH” e “À moda de PF”, o livro é, simultaneamente, diálogo e disputa entre os dois. Há casos vividos pela dupla, lembranças de New Orleans, análises sobre a gastronomia “créole” e muitas receitas – às vezes a mesma com versões diferentes de Lillian e Peter. Acima de tudo é uma prova que comer bem ao lado de amigos é uma das melhores coisas da vida.
5. O Livro de Cozinha de Alice B. Toklas – Alice B. Toklas
Na Rue de Fleurus, 27, próximo ao Jardim de Luxemburgo, morava um dos casais mais famosos da Paris pré-Segunda Guerra: Gertrude Stein e Alice B. Toklas. Ali elas recebiam amigos como Picasso e Hemingway com jantares que ficaram famosos nos meios artísticos. Stein sempre foi uma escritora idolatrada na França e Estados Unidos, principalmente pelo livro “A Autobiografia de Alice B. Toklas”, que pouco ou quase nada tem de autobiografia. Alice só veio a ganhar projeção anos depois da morte da companheira ao lançar seu livro de culinária. Nele, mostrou ser uma fina escritora de humor apurado e uma cozinheira de mão cheia. A fama do compêndio, entretanto, se dá por outro motivo: ali está a famosa receita de bolinho de maconha. O sucesso entre a geração hippie dos anos 60 era tanto que o nome de Alice virou título de uma comédia estrelada por Peter Sellers, “I Love You, Alice B. Toklas” (que aqui se transformou em um aparvalhado “O Abilolado Endoidou”).