A Copa do Mundo tem promovido dois movimentos muito interessantes. O primeiro é a amnésia. Parece que em poucos dias de jogos o país esqueceu as mazelas construídas nos meses anteriores em que se imaginavam filas enormes, aeroportos abarrotados, desastres nas Arenas e um caos generalizado. Apesar de alguns fatos isolados terem acontecido a verdade é que, assim que a Copa começou, tudo passou a funcionar quase que como num passe de mágica. O segundo tem sido uma reação de consumo de cervejas, que tem surpreendido e superado as expectativas de mercado. Ambos estão entrelaçados mas não é apenas isso.
O período da Copa do Mundo tem comprovado as afirmações de que a economia e o consumo movem-se pelas leis subjetivas da psicologia. O mercado tem ânimo, depressão, reação, otimismo e intenção. Claro que o dinheiro no bolso é fator primordial, mas sejamos francos. Nada mudou na economia de maneira significativa no país nos últimos meses. O que aconteceu então?
O mercado de cervejas fechou 2013 com 13.464 milhões de hectolitros, uma queda de 2% em relação ao ano anterior. Neste ano, os números apontam para um crescimento de cerca de 5%. A previsão é resultado de uma análise bem simples. Se no segundo semestre a indústria produzir exatamente o mesmo que no segundo semestre do ano anterior, o número está garantido. A influência da Copa não está no número de turistas, cerca de 700 mil segundo as estimativas do próprio governo. Está no clima.
A expressão de que “bebemos para esquecer” parece ter caído em desuso. Bebemos, especialmente cerveja, para comemorar. A bebida é reconhecida por 64% dos brasileiros, segundo uma pesquisa IBOPE Inteligência, como a bebida ideal para comemorações. A Copa mudou o clima. E o clima mudou o consumo.
Para o segundo semestre, existe a garantia de que o mercado continue sua reação? Não. Mas o clima, o outro, parece estar dando uma folga também. As temperaturas de inverno em mercados como São Paulo e Rio de Janeiro estão elevadas. Julho deve ser um bom mês para produção, embora muito mais cauteloso. O clima eleitoral pode influenciar muito mais o trade, que deve agir de maneira conservadora evitando manter estoques elevados. Nos bares, existe ainda a chance de um consumo um pouco maior.
Há uma batalha a ser vivenciada ainda nos meses futuros. Existe no ar uma ameaça de aumento de tributos, o que contraria as expectativas do mercado e dos consumidores. Isso pode colocar água na cerveja? Sim. E vai demonstrar a total falta de sensibilidade de quem defende o aumento. Parece aquele velho vizinho que não suporta a felicidade no apartamento ao lado e quer acabar com a festa. No caso, a festa de quem gosta de comemorar, ou seja, a grande maioria da população.