Durante a Copa do Mundo houve um lugar em São Paulo que foi parada obrigatória para qualquer estrangeiro de passagem pela cidade: o bar São Cristóvão.
Incrustado no coração da Vila Madalena, justamente naquele pedaço da Rua Aspicuelta que se transformou na quadra mais muvucada do Brasil durante a Copa, o São Cristóvão ficou famoso por um motivo: o futebol. Ali, fotos, cachecóis de torcida, camisas, recortes de revistas e jornais e souvenires ligados ao tema recobrem paredes, teto e balcão. Não é raro ver gringos das mais diferentes partes do planeta caminhando entre as mesas enquanto procuram alguma referência aos seus clubes do coração.
Mas o verdadeiro diferencial do São Cristóvão é o seu clima aconchegante. Há muitos adjetivos para descrever os bares na concorrida Vila Madalena (que podem ir de “badalado” a “roubada”), mas aconchegante certamente não é um deles. No São Cristóvão não há paqueras explícitas, faixa etária determinada ou predominância sexual. Você pode topar com uma mesa de engravatados, de senhores na faixa dos 60 anos, de garotas recém ingressadas na maioridade, de casais apaixonados. Trata-se de um bar de frequentadores, não um “pico da moda”.
Ali você também encontra outra coisa rara de se ver nos bares da Vila: o dono. Pode-se não notá-lo, mas é aquele sujeito na mesa do canto que lê um jornal compenetrado enquanto toma seu negroni. Leonardo Silva Prado, o Leo, é um goiano que chegou em São Paulo no final dos anos 70 e nunca mais foi embora. Sua vida sempre foi dentro de bares e restaurantes. O primeiro emprego foi ano falecido Clyde’s, um pub frequentado por moderninhos nos anos 80. “Sou da primeira geração, que era chamada de ‘garçons estudantes’. Era algo muito comum na Europa e Estados Unidos, mas a gente não tinha isso”, lembra.

Depois disso, Leo trabalhou em um restaurante natural, o Cheiro Verde, que acabou comprando. Como o restaurante era assaltado periodicamente, decidiu fecha-lo e, em 1998, foi para Londres com a mulher. Passou um ano na capital inglesa antes de retornar, tempo suficiente para ter o lampejo de abrir um bar cujo tema seria o futebol. “Comecei a reparar que havia muitos pubs temáticos no exterior. A maioria dos temas eram guerras. Os guerreiros são os heróis deles. Nós não temos essa tradição da guerra. Quem são os nossos heróis? Os jogadores de futebol.”
O São Cristóvão abriu as portas em 2000. Na época, eram poucas as fotos nas paredes – e todas tiradas do escritório doméstico de Leo. Desde então, a memorabilia cresceu exponencialmente com ajuda de clientes e material adquirido em viagens. Quanto ao cardápio, o clássico continua sendo o Filé Oswaldo Aranha, mas o Cordeiro no Chope Escuro do almoço às sextas-feiras também é bastante concorrido. Outro sucesso – esse inesperado – são as noites de segunda, quando o bar tem jazz ao vivo. Jazz, aliás, é a trilha sonora do bar.
Apesar de não ter aberto filiais do São Cristóvão, em 2003 Léo (com dois sócios) montou, em Goiânia, um bar e restaurante que homenageia os botecos cariocas. Em São Paulo, o seu novo xodó é o Bar e Armazém Cambuci, no bairro de mesmo nome, que inaugurou no começo de 2014. Planos para o futuro? “Quero abrir um bar cujo tema sejam mulheres – pinups, estrelas de Hollywood e tal. Não sei se será em São Paulo ou Goiânia, mas já tenho material separado para colocar nas paredes.”