A Copa do Mundo acabou por aqui, o que dá a largada para os preparativos para o próximo torneio, daqui a quatro anos. Uma das primeiras resoluções da Rússia, país que recebe a Copa do Mundo Fifa em 2018, é afrouxar sua proibição da propaganda de cerveja até depois do campeonato, que tem a Budweiser como bebida oficial, dando um impulso aos fabricantes de cerveja, incluindo a Anheuser-Busch InBev.
Para se ter uma ideia do que o patrocínio de um fabricante de cerveja significa em um evento esportivo deste porte, dos mais de US$ 3,5 bilhões que a Fifa esperava arrecadar com a Copa do Mundo no Brasil, cerca de US$ 1,4 bilhão veio das cotas de patrocínio, incluindo bebidas. Em média, cada patrocinador oficial desembolsou US$ 75 milhões para vincular sua marca ao evento. Por aqui, além da Copa do Mundo, outros campeonatos estão diretamente ligados ao consumo da cerveja. Produtos da Ambev patrocinam 21 clubes de futebol e a própria seleção brasileira desde o ano de 2001.
Na Rússia, a publicidade em relação a bebidas alcoólicas é proibida e a mudança na lei permitirá que a cerveja possa ser promovida em canais de televisão desde que haja uma ligação com a Copa. As empresas concorrentes da AB InBev agora buscam se beneficiar com a nova resolução.
No Brasil, a Copa do Mundo não impulsionou uma mudança significativa na propaganda de bebidas alcoólicas. As chamadas bebidas quentes, também conhecidas como destilados, são proibida na faixa de horário entre 6 da manhã e 21h em canais de televisão e rádio. Classificadas como contendo teor alcoólico superior a 13° GL, são, basicamente, aguardente, conhaque, gim, rum, uísque e vodca. De acordo com a Lei nº 9.294, fica proibida também a “associação desses produtos ao esporte, à condução de veículos, ao desempenho saudável de qualquer atividade e a imagens ou ideias de maior êxito ou de sexualidade das pessoas”. Para as demais bebidas com teor mais baixo, impera a auto-regulamentação publicitária. Ou seja, o bom senso.
Por aqui, é comum que propagandas de bebidas sejam questionadas por organizações feministas ou de direitos humanos, por conter alusões sexistas ou associações indevidas. Por isso, a discussão sobre a regulamentação e até a proibição desse tipo de propaganda no Brasil é alvo de discussão constante, principalmente no que diz respeito à influência que teria sobre o consumo de adolescentes e menores de idade. Recentemente, a prefeitura de Goiânia, por exemplo, sugeriu que os rótulos e embalagens de bebidas alcoólicas que circulam na cidade tenham imagens de acidentes de trânsito, assim como acontece com o cigarro em relação aos males que faz à saúde. A ideia não vingou pois esse tipo de decisão não está na esfera municipal e sim depende de uma determinação Federal.
Outros países adotam estratégias mais agressivas em relação à publicidade de bebidas, como acontece na Espanha. Lá, desde 1990 há uma lei que impede o anuncio de bebidas alcoólicas com graduação superior a 20º GL. Além disso, há um código de auto-regulamentação e o Television Without Frontiers Directive (Diretrizes da Televisão Sem Fronteiras), em vigor desde 1994, cujo artigo 15 dermina que “a publicidade não deve estimular o consumo excessivo ou menosprezar a abstinência e a moderação. Tampouco pode sugerir que a alta concentração alcoólica seja uma característica positiva de uma marca ou bebida. Ademais, leis regionais fazem restrições suplementares”.
Nos Estados Unidos, existem leis estaduais e três códigos de auto-regulamentação, um para cada braço da indústria de bebidas – cervejas, vinhos e destilados. No país, o Federal Alcohol Administration Act impede que o baixo teor alcoólico de determinados produtos seja usado como atrativo para o consumo e nem pense em associar bebidas a propriedades terapêuticas por lá. Essa história de que um cálice de vinho ao dia faz bem para o coração não cola para os norte-americanos.
Mais rígido, o Chile regula, desde 2004, o comércio de bebidas alcoólicas e o horário de funcionamento de bares e lojas de conveniência. Mas, quanto à propaganda, o país impede apenas que o consumo do álcool seja associado a menores de idade ou atletas. Também na América do Sul, a Argentina possui a Ley Nacional de Lucha contra el Alcoholismo, que dedica um artigo ao controle da publicidade de bebidas. No país, as propagandas não podem indicar melhora no desempenho físico ou intelectual de quem consome a bebida promovida. É obrigatória a inscrição, na propaganda, de frases recomendando moderação no consumo e advertindo sobre a proibição da venda a menores de 18 anos. É o nosso “Aprecie com moderação”.