Os tempos devem ficar difíceis para bares e restaurantes até o final do ano. Os motivos basicamente são três: a queda de renda dos brasileiros; o problema da segurança e a possibilidade de aumentos nos produtos comercializados, especialmente bebidas. O cenário exige um esforço em conjunto, somado a uma decisão de toda a sociedade.
Existe no Brasil cerca de um milhão de pontos de venda entre bares e restaurantes. Eles concentram seis milhões de empregos diretos, a imensa maioria reunindo famílias inteiras. Com a expansão de renda nos anos anteriores houve um adensamento de microempresas nas periferias e o segmento se transformou em gerador de cerca de 6% da população economicamente ativa do país. Uma crise de consumo afeta muitas pessoas.
A crise de consumo vem? Sim! Ela já chegou, sentou-se à mesa e pediu a entrada. Com a estagnação de novos clientes da Camada C e o endividamento da população, há um corte paulatino no consumo de alimentação fora do lar, aliado a queda de frequência. Duas possíveis atitudes podem ser tomadas por parte dos estabelecimentos, ambas de muito risco. A primeira é aumentar preços e a segunda fazer promoções para atrair mais público. Ambas tem problemas intrínsecos. A primeira é que, sem renda, aumentar preços é um problema que tende a afastar os consumidores. Outra é a de que a redução não garante as margens que o bar precisa. Um exemplo disso foi uma política que certos pontos de venda fizeram alinhadas com algumas marcas de cerveja que mantiveram seus preços e os bares reduziram suas margens esperando atrair os clientes e lucrar com a venda de alimentação. Muitas vezes as pessoas bebiam mas não comiam. Houve fluxo, não lucro.
Um fator nefasto da crise é a possibilidade de roubos, arrastões. Na cidade de São Paulo houve um aumento de 21% em roubos em julho deste ano comparado com o mesmo período do ano anterior. No Estado o aumento foi de 14,7%. Os arrastões afugentam os clientes noturnos, o que prejudicou bares e restaurantes. Bares lotados são mais seguros. Os com poucos clientes são mais atraentes para os assaltantes. A solução é fechar mais cedo? Não! Daí o número de horas é reduzido para um mesmo custo de mão de obra. É prejuízo na certa.
Neste cenário, bares e restaurantes precisam tentar equilibrar preços e margens. A equação não é simples. Havia uma expectativa de que a Copa do Mundo seria um refresco em termos de produção para o segmento e especialmente para quem comercializa cachaça e cervejas. O chamado mês de verão no inverno produziu um movimento acima da média nos bares especialmente nas cidades sede. Mas o movimento foi em bares e os restaurantes ficaram de fora. Outro problema é que as melhores vendas ficaram por conta dos produtos com menor preço e margem. A lata de cerveja tem pequena porcentagem de lucro, que é maior na venda das retornáveis. Com isso, as empresas aumentaram volume mas perderam rentabilidade.
Como para as empresas o aumento de preços também é um fator inibidor de consumo, houve um represamento de custos. De janeiro a junho as cervejas tiveram um aumento médio de 3%, abaixo do índice geral de alimentos e bebidas, que ficou em 5,1%, e da inflação oficial, calculada pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor – Amplo), de 3,8%. A questão é que as empresas estão chegando ao seu limite. Some-se a isso a possibilidade de um aumento de tributos. Se vier, vai para o preço. Isso vai para a inflação e prejudica o setor de bares e restaurantes.
O que seria uma boa ação para bares e restaurantes? Em primeiro lugar, criar estratégias de fidelização para manter volume de clientes e garantir ocupação. A fidelização não estaria no preço. mas sim nos serviços e na geração de oportunidades de frequência e consumo. Algo na linha da Promoção 10. Se o consumidor for 10 dias durante o mês no bar e neste período consumir dez cervejas com 10 itens da cozinha ele passa a ter benefícios. Depois, buscar trabalhar ao lado de fabricantes de bebidas para evitar aumentos. Trabalhar junto atesta que não adianta achar que o aumento de impostos e de insumos é um problema da indústria. O problema afeta a todos. E a solução só existe de maneira compartilhada.