Tinha eu bem mais de 21 anos e nunca havia experimentado saquê. Gostava de vodca – que praticamente não tem um gosto marcante, é muito sutil – do bom uísque, e tal qual Truman Capote, eu adorava um JB.
Saquê eu nunca tinha experimentado. Motivos, desconheço.
Talvez por acreditar que não tinha nenhum atrativo uma bebida feita a partir de arroz.
Até que um dia, num restaurante, eu compunha uma mesa com amigos e umas meninas não amigas, mas que uma me chamava muito a atenção. Quanto cavalheirismo, não. Ela era bonita, gostosa e eu estava a fim!
Foi ela que me convidou a experimentar o saquê. Claro! Colocou o saquê num “copo” de madeira pintado de preto, quadrado e disse para ir sorvendo pacientemente. Fiz. A primeira impressão é que efetivamente eu sempre estivera certo: gosto de nada.
A moça, de lindos olhos azuis, sorvia a bebida com um prazer que eu só posso classificar de sensual.
Aos poucos, fui descobrindo que o saquê tinha um leve paladar. Bem sutil, ao qual eu fui me acostumando.
A gata sugeriu tomar uma caipirinha de saquê e orientou o garçom que colocasse muitas frutas, para que a bebida ficasse mais suave. Duas, pedi!
Veio uma caipirinha, veio outra, o almoço foi rolando e num dado momento todos estavam satisfeitos. Um gentil casal pagou a conta e todos começaram a se levantar. Em seguida, tínhamos programado um teatro. Todos se levantaram. Eu também tentei… tentei…tentei e percebi que o meu jovem corpo não me atendia. Mas como, pensei?! Aquilo tinha gosto de água com frutas e algum açúcar.
Ainda bem que dois ombros amigos me levaram até um carro e até em casa. A peça ficou para outro dia. Eu tinha conhecido o saquê.
Curioso é que até experimentar a bebida eu não tenha perguntado de sua graduação alcoólica. Posteriormente descobri ter entre 13% a 16%. Curioso também é que eu não me toquei – o que a gente não faz por sexo, comenta um amigo meu ! – que aquela bebida tinha centenas, mais aproximadamente 2 mil anos de existência.
Certamente naquela época e nos anos que se sucederam, os caras que bebiam o saquê não eram uns rapazinhos da cidade grande como eu. Eram homens rudes que lutavam muito para sobreviver, ter alimentação todos os dias, constituir família, sobreviver à falta de uma medicina mais efetiva, água saneada…
Que ingenuidade a minha.
Fui estudar, é claro. Descobri que o saquê é uma bebida fermentada, tendo como base o arroz e obtida por meio de um micro-organismo chamado kojie das leveduras. A qualidade da água utilizada na fabricação também é algo importante. Os fabricantes aproveitam os diversos tipos de água natural disponível no Japão para fazer um saquê excelente.
Outra variante: ele pode ser bebido quente, gelado ou em temperatura ambiente, de 5 a 50 graus, dependendo da época do ano. Experts garantem que a melhor temperatura para o saquê ser consumido é de 35º C, porque nesta temperatura se percebe melhor as delicadas características da bebida.
E a temperatura tem tudo a ver com o tipo de “recipiente” em que você deve tomar o saque. Podem ser copos de vidro, porcelana ou laca. E antes que você pergunte, respondo: o copo certo em certa temperatura dá o melhor gosto ao saquê!
Beber saquê é um ritual no país, e existem várias razões pelas quais a bebida é apreciada, que vão muito além do paladar, sede ou disposição para encher a cara. Segundo a tradição, bebe-se saquê para eliminar as preocupações e prolongar a vida.
O saquê facilmente ganhou o mundo. Já há muito tempo harmoniza com comidas de diversos países, marcando forte presença na França e na Itália.
Segundo especialistas em gastronomia, o saquê potencializa o sabor dos alimentos. Mais. Tempera os aromas fortes de carnes e frutos do mar.
Conto uma curiosidade. Se é lenda, é a lenda que estou publicando.
Fui comprar uma garrafa de saquê para receber uns amigos. O melhor local aqui em São Paulo para adquirir a bebida é o bairro da Liberdade, reduto da colônia oriental. Inclusive sua aparência lembra uma cidade japonesa.
Entre numa das diversas lojas que vendiam produtos típicos das colônias. Fui atendido por um velhinho. Sei, você vai dizer: esta história de ser atendido por um velhinho japonês é velha e cheia de mandinga. Mas é a pura verdade.
Com ar de “entendido”, no bom sentido, pedi: quero uma garrafa de saquê e tem que ser fabricada no japão. O velhinho pegou duas garrafas, citou o preço – que era bem diferente – e me surpreendeu dizendo: a maioria dos meus clientes prefere o saquê fabricado no Brasil. Adivinhem qual eu levei.
Alguns drinques que você pode preparar com saquê.
Cosmopolitan
Ingredientes:
35 ml de Saquê Azuma Kirin Dourado
28 ml de suco de cranberry
1 laranja
21 ml de suco de limão
Açúcar
Preparo:
Inicialmente, passe a borda da taça no suco de laranja e depois no açúcar, resfrie e reserve. Em uma coqueteleira, bata o Saquê Azuma Kirin Dourado com os sucos e o açúcar com gelo. Sirva na taça gelada.
Mojito
Ingredientes:
35 ml de Saquê Azuma Kirin Dourado
5 folhas de hortelã
1/2 limão
2 colheres rasas de açúcar
Água com gás
Preparo:
Macere o limão com açúcar, coloque 5 folhas de hortelã e macere novamente. Adicione o gelo e o Saquê Azuma Kirin Dourado. Agitar e colocar no copo alto, complete com água com gás.
Red Hot
(receita criada pelo restaurante Hashi art Cuisine)
Ingredientes:
2 doses de saquê
½ dose de Curaçao Red
4 unidades de morango
1 colher de chá de pimenta rosa
1 ½ colher de açúcar
Gelo
Preparo:
Coloque o morango, a pimenta e o açúcar na coqueteleira. Macere os ingredientes e acrescente o gelo e o saquê. Bata por alguns segundos e sirva em copo long drink. Adicione um lance de curaçao red. Use um morango como guarnição.
Momo Noki
(receita criada pelo restaurante Gokan Sushi)
Ingredientes:
50 ml de saquê
25 ml de Malibu
25 ml de licor de pêssego
1 bola de sorvete de creme
1 colher de chá de gergelim
Preparo:
Bata no liquidificador o saquê, o malibu, o licor de pêssego e o sorvete de creme. Decore o copo long drink com calda de chocolate. Após preenchê-lo com a mistura, polvilhe gergelim e decore com uma cereja na borda do copo.
Observação final: O saquê é uma bebida alcoólica delicada, que é extremamente sensível à luz e ao calor. Ele deve ser armazenado em um local escuro e resfriado.