Prostitutas, cabarés, vida noturna e absinto sempre estiveram associados ao nome do genial e polivalente Henri de Toulouse-Lautrec.
Ele nasceu Henri Marie Raymond de Toulouse-Lautrec Monfa, em Albi, dia 24 de novembro de 1864. Lautrec vem de família nobre, herdeiro de um título de conde. Seus pais, como toda família, queriam que ele seguisse a conduta nobre de toda a sua família.
Não era papo para Toulouse-Lautrec.
No meio do seu caminho ‘tinha uma pedra’ chamada doença poli-hipofisária (debilidade óssea que compromete o crescimento). Ainda jovem, dois acidentes e o rapaz ficou com um corpo deformado e nunca ultrapassou os 1,52 m de altura. Esta doença o transformaria num homem feio, desengonçado, estranho.
O longo tempo em que o jovem Lautrec passou acamado acirrou sua vocação: pintava aquarelas e fazia desenhos compulsivamente.
Aos 16 anos sua vida mudou definitivamente. Foi estudar pintura em Paris. O destino desenhou seu futuro: conheceu Montmartre, uma área de famosa pela boemia e por ser antro de artistas, escritores, filósofos e prostitutas e, claro, a cerveja e o absinto.
Quando o cabaré Moulin Rouge abriu as portas, Toulouse-Lautrec foi contratado para fazer cartazes da casa. Se apaixonou pelo clima, frequentadores e principalmente as prostitutas – que seriam suas modelos favoritas. Posteriormente passou a ter assento cativo.
Um retrato de Toulouse-Lautrec adulto, consequência da sua doença de juventude, mostrava um homem bem feio. Uma caricatura viva. Sua estranha figura vinha sempre acompanhada de uma bengala, e coxeava, andava sempre inclinando o corpo.
No entanto, estava sempre bem, era aceito com todas as suas debilidades, destilava um humor bem legal. Espirituoso, o artista se retratava em caricaturas cáusticas. Exibia certa sensualidade. Gostava de cozinhar pratos excessivamente picantes e andava com um pequeno ralador e uma noz-moscada para perfumar os copos em que ia beber vinho ou absinto.
O absinto – que vamos focar em detalhes brevemente – tornou-se a sua bebida favorita. Um pequeno trailer: O absinto nasceu por volta de 1792; é uma bebida destilada feita da losna, anil, funcho e outras ervas. É fortíssima: seu teor alcoólico varia de 45% a 75%.
Quem me ensinou a ver a obra e o artista Toulouse-Lautrec foi a filósofa e especialista em artes visuais, Roberta Browne, atualmente integrante da equipe que dá vida à 31 Bienal de Artes de São Paulo.
Assim ela começou a pintá-lo: “Toulouse-Lautrec é um artista bem curioso. Do mesmo período de Degas, Renoir e Van Gogh, busca uma maneira de se expressar sem ter que recorrer ao acadêmico mas também sem se fechar dentro de um único movimento.”
A jovem filósofa explica essa múltipla e rica face artística de Lautrec: “Em termos históricos, ele é chamado de pós-Impressionista. Mas o que isso quer dizer? Quando falamos em Impressionismo, Paris é logo uma das primeiras cidades que vem a mente. O que foi Paris no fim do século XIX? Foram as bailarinas de Degas? Os bailes e festas ao ar livre de Renoir? Será mesmo que Paris é só felicidade?”
A necessidade de dar acabamento à figura do artista, faz com que a filósofa Roberta Browne tome fôlego e vá fundo na construção de seu olhar: “ E o outro lado da moeda, onde fica? Toulouse trás a tona essa outra face de Paris, o lado que nem tudo são flores, no qual a sífilis, o álcool e a prostituição são os motes centrais. Em vez de uma felicidade coletiva, a realidade do indivíduo.”
As últimas pinceladas de um retrato de Toulouse-Lautrec fazem com que a filósofa levante uma questão. E respostas: “Quem são as pessoas por trás da máscara parisiense? Fazendo uso, em grande parte das suas obras dos tons de vermelho, laranja e amarelo, ele trás a vida boêmia para o centro. O abandono, a miséria humana, a psicologia por trás de seus modelos, a expressividade – Toulouse-Lautrec é tudo isso e um pouco mais. ‘É impossível não ver as rugas; eu quero inclusive acrescentar pelos, desenhá-los maiores do que o natural e aplicar-lhes uma ponta reluzente. Quando meu lápis se põe em movimento, eu o deixo correr ou tudo se acaba’, concretiza o artista.“
No quesito grandes bebedores, Lautrec é responsável pela criação de um coquetel explosivo chamado carinhosamente de… Terremoto. É uma mistura potente de 1/2 parte de absinto e 1/2 parte de conhaque, servido em copo de vinho sobre cubos de gelo ou batido com gelo em coqueteleira.
Quanto mais forte fosse a bebida, melhor. Chegava a esconder, dentro do bastão da bengala, um tubo de vidro cheio de absinto.
Em 1899, a vida desregrada e o excesso de álcool finalmente cobram seu preço do artista. Lautrec tem crises e é internado numa clínica psiquiátrica. Ao sair é constantemente vigiado para que não beba e não volte a frequentar os bordéis. Claro que ele conseguia fugir.
Em 9 de Setembro de 1901, Henri de Toulouse-Lautrec morre em consequência de um derrame nos braços de sua mãe, no Castelo de Malromé, perto de Bordeuaux, às duas horas e quinze minutos da manhã.