– Viver é negócio muito perigoso… (Grande Sertão: Veredas – Guimarães Rosa)
A arte de fabricar e tomar uma boa cerveja data pelo menos alguns milênios na história do Homem. Segundo a Encyclopaedia Britannica Online, há mais de 6.000 anos antes de Cristo já se (bebia e) falava no assunto na Babilônia – atual Iraque.
Mas isto não significa que há exatos 8.015 anos a cerveja era a mesma que você toma hoje em dia. Assim como a própria civilização, a bebida passou por muitas mudanças e estágios, dignos de histórias cheias de aventuras e descobertas. Ou seja, se você acha que a sua cervejinha gelada veio sempre numa garrafinha de vidro retornável, pronta para ser degustada: engano o seu. Mais chocante seria dizer que ela foi – durante a grande maioria de sua existência – uma bebida razoavelmente quente (em temperatura ambiente) e sem controle de qualidade e higiene alguns.
Justamente por não haver um rigor científico como nos dias atuais, a mesma bebida não podia ser replicada duas vezes com o mesmo gosto ou com o gosto extremamente parecido. Cada processo, uma vivência. Para além disso, outras questões como “bebida estragada”, envenenamento e más condições de armazenamento eram relativamente comuns aos consumidores de álcool (ou seja, comuns a todos).
Foi só no ano de 1864 – ou 7.864 anos depois daquele “ano zero babilônico” do começo do texto – e há 4.000 km dali, na França, que o engenhoso sr. Louis Pasteur explicou ao mundo como as coisas deveriam ser feitas. A pedidos de fabricantes de vinho, cerveja, leite e outros produtores, o químico passou a estudar o porquê da deterioração de certos alimentos e bebidas e de que maneira eles estragavam. Concluiu ele que seres microscópicos, deixados livremente sob condições agradáveis como umidade e alta temperatura, faziam-nos comer os alimentos e excretarem sobre ele – estragando-os de vez. Mais: ele disse que se fervêssemos os alimentos a 60ºC e depois bruscamente abaixássemos a temperatura, conservando-os bem, tais bens consumíveis durariam mais pois se eliminaria a grande parte destes bichinhos invisíveis.
Tá, mas e daí? Para a cerveja – e o mundo – isto revolucionou a maneira como observamos os nossos hábitos de consumo. O leite (pasteurizado), o bisturi (esterilizado) e a cerveja (que é fermentada) são só alguns exemplos. Com este conhecimento em mãos, foi possível aplicar à nossa querida loira técnicas de padronização durante a fermentação e conservação da bebida ao máximo – isso inclui guardar a cerveja dentro da geladeira para evitar a procriação de bactérias e vendê-la em garrafas de vidro fosco, de modo que o líquido não entre em contato com a luz solar e não faça (tantas) trocas químicas com o seu exterior.
Se você gosta da sua cerveja geladinha, sem bichos e com gosto bom, você já sabe a quem agradecer. Valeu Pasteur!
Com informações de: Encyclopaedia Britannica Online, Guia do Estudante, Wikipédia