O homenageado neste post, o roteirista Dalton Trumbo, foi considerado durante 40 anos como um dos melhores da sua profissão em Hollywood.
Foram mais de 30 trabalhos, vários livros, inclusive “Johnny Vai à Guerra”, que ele escreveu, roteirizou e filmou em 1971, e peças e ensaios.
O reconhecimento pelo seu trabalho veio na forma de dois Oscar. Um para “A Princesa e o Plebeu”, 1953 e “The Brave One”, 1956. Estes dois prêmios foram concedidos aos testas-de-ferro por acaso, que assinavam os roteiros que Trumbo produzia. A história seria cômica, se não fosse trágica e ao mesmo tempo vergonhosa para a cultura norte-americana.
Chegamos lá!
Um rápido flashback.
Nascido James Dalton Trumbo, em 9 de dezembro de 1905, no Colorado, foi casado de 1938 a 1976 com Cleo Beth Fincher. Desta união, três filhos.
Extremamente talentoso, Trumbo tinha uma língua ferina e escrita idem. Caso você fosse visitá-lo enquanto estava trabalhando, normalmente o encontraria dentro da banheira, digitando em sua velha companheira máquina de produzir textos, com um copo de uísque Canadian Club na mão e fumando um cigarro atrás do outro. Esse ritual ele manteve durante toda a sua vida.
O inferno na vida de Dalton Trumbo tem data: 1947, durante o auge da caça às bruxas do macarthismo.
Explicando.
A paranoia dos americanos contra o medo do comunismo dominar o país é antiga e data de 1918.
Do final dos anos 40 a meados dos 50, o fanático senador Joseph McCarthy cria uma espécie de CPI, com delação premiada, buscando comunistas ou simpatizantes que trabalhassem para a indústria cinematográfica.
Trumbo – que foi do Partido Comunista entre 1943 e 1948 – e mais nove profissionais foram condenados à prisão. Tiveram seus direitos trabalhistas caçados e foram banidos de qualquer atividade ligada à Hollywood.
Um inferno na vida de Trumbo. Foram 11 meses de prisão. Evidente queda de poder aquisitivo e um perrengue para sustentar esposa e três filhos.
Teve que mudar, reduzir seu padrão ao mínimo. Ele e sua família foram agredidos como inimigos dos americanos. Paranoia pura.
Trumbo começa a longa e penosa volta por cima quando descobre que pode escrever os seus roteiros desde que outras pessoas – os testas-de-ferro – pudessem vender os roteiros em seu lugar. Claro, muito menos dinheiro, um mínimo para sobreviver. E foi assim por muitos anos.
Quem deu a primeira grande chance para Trumbo voltar a assinar os seus roteiros e receber um salário digno foram o produtor Kirk Douglas e o diretor Stanley Kubrick, que precisavam de um bom texto para o filme “Spartacus”.
Claro que o filme sofreu boicotes. Até que um dia foi visto pelo presidente John Kennedy, ele elogiou trabalho e o sucesso ganhou vida e liberou definitivamente Dalton Trumbo.
Que retornou à sua banheira e chamou seus três grandes parceiros: uma boa dose do uísque Canadian Club, colocou seu cigarro favorito na piteira e passou a dedilhar sua velha máquina de escrever e preparar o próximo roteiro de sua vida, que foi “Exodus”, baseado no livro de Leon Uris.
Depois de muitos anos, Hollywood prestou a correta homenagem a este genial roteirista, com o filme “Trumbo: Lista Negra”, dirigido por Jay Roach, e tendo como principal interprete o fantástico Bryan Cranston, indicado para o Oscar de Melhor Ator!
Vale a pena ver “Trumbo: Lista Negra”. Está em cartaz em vários cinemas do Brasil e ajuda a clarear um período insensato, vergonhoso e totalmente paranoico da história recente de Hollywood.