O grande homenageado deste post, o roteirista, diretor, ator, apreciador de lutas de boxe, criador de cavalos, que gostava de pintar nas horas vagas e também caçar, John Huston foi um dos poucos artistas que praticamente viveu como seus principais personagens, ao longo dos mais de 50 filmes que realizou.
John Marcellus Huston nasceu em 5 de agosto de 1906, em Nevada, Missouri, EUA.
Filho do ator Walter Huston e de uma jornalista, bem cedo experimentou que viver não seria uma causa fácil. Aos seis anos, seus pais se divorciam. De saúde frágil, aos 12 anos foi internado em um sanatório com problemas no coração e nos rins.
Depois dos estudos primários, se dedica ao boxe, onde ganhou melhor forma física e conheceu este universo que sempre apreciou.
O cinema entra em sua vida bem cedo. Com 30 anos já escreve roteiros para diretores consagrados como William Wyler e Raoul Walsh. Faz seu primeiro filme no início da década de 1940, “O Falcão Maltês”, baseado em romance policial escrito por Dashiell Hammett.
O filme vira um grande clássico, vindo a ser um dos primeiros trabalhos do cinema noir e aproxima o diretor do ator Humprey Bogart – cuja parceria seria muito forte, dentro e fora dos sets de filmagem.
Em grande parte de sua extensa obra, John Huston deixava transparecer o seu ceticismo em relação à realidade. Muitos dos seus personagens, tal qual o diretor, eram colocados em situações-limite, se engajavam em causas praticamente perdidas. E surgia todo o drama pessoal que tais decisões precipitavam.
Em “O Tesouro de Sierra Madre” (1948), constrói praticamente uma parábola sobre a ganância humana. “O Homem que queria ser rei” (1975) é um cruel retrato do orgulho. Mas a perseverança também estava presente em seus trabalhos, como vimos no belíssimo “Moby Dick” (1956) e em “Uma Aventura na África” (1951), que serviu de base para o filme-homenagem, onde Huston é o personagem principal, realizado por Clint Eastwood: “Coração de Caçador”.
Curiosamente, o diretor gostava também de atuar, tendo emprestado a sua interpretação e figura forte para mais de quarenta filmes.
John Huston casou cinco vezes. Teve cinco filhos, sendo que dois ligados a profissão do pai: Danny Huston, que virou diretor e a atriz Anjelica Huston, com a qual o diretor filmou “A Honra dos Poderosos Prizzi” (1985) e que nas horas vagas era sua companheira de um bom drinque. Anjelica conta que aprendeu a preparar martinis com o pai, uma das bebidas preferidas da dupla.
Como homem de temperamento forte, grande aventureiro, John Huston nunca escondeu sua preferência pelo uísque Jack Daniel´s. Inclusive sobre esta parceria tem uma história bem curiosa que o diretor conta em sua autobiografia Um Livro Aberto (Editora LPM, Porto Alegre, 1980). Durante a filmagem de “Uma Aventura na África”, a mistura os salvou. Naquele ano de 1950, todo o elenco e produção do filme, rodado nos confins da atual República do Congo, penou com problemas digestivos por conta da água contaminada, menos Bogart e Huston. “Nunca tivemos nada, provavelmente porque sempre misturávamos a água com uísque”, revelou o diretor.
José Edward Janczukowicz