O ato de apreciar uma bebida tem mil e uma ramificações.
Beber é socializar, festejar datas importantes, rever amigos, comemorar vitórias, desejar boas vindas a novas pessoas que vem habitar o nosso planeta, saudar jovens casais-futuras famílias… Tantas ramificações que podem até desembocar no – aparente – simples ato de apreciar solitáriamente todo o sabor de determinada bebida.
Claro que em todos estes casos, a moderação, ainda que com aceitáveis excessos, é o tom que deve marcar esta solenidade.
Demonizar o beber é um ato no mínimo ingênuo.
Como seria ingênuo, inocente e até imprudente julgar – sem refletir, analisar sem preconceitos – algumas afirmações que a grande esritora Marquerite Duras cunhou.
“Vivi sozinha com o álcool verões inteiros. O álcool dá ecos à solidão e acaba fazendo nos preferi-lo a qualquer outra coisa. Beber não é obrigatoriamente querer morrer, não. Viver com álcool é viver com a morte ao alcance da mão. O que impede que nos matemos é a ideia de que, uma vez mortos, não beberemos mais.”
Marguerite Duras é pseudônimo de Marguerite Donnadieu, que nasceu em Saigon, atual Cidade de Ho Chi Minh, em 4 de abril de 1914. Foi romancista, novelista, roteirista, poetisa, diretora de cinema e dramaturga. É festejada pela crítica mundial como uma das principais vocês femininas da literatura do Século XX na Europa. Faleceu em 3 de março de 1996, em Paris, vitimada por um câncer. Foi enterrada no Cemitério de Montparnasse.
Sua infância e juventude foram marcantes. Morando com os pais numa colônia francesa da Cochinchina, sul do atual Vietnã, perdeu o pai aos 7 anos, deixando a família na pobreza. Na escola teve um relacionamento sexual – incentivado pela família por razões financeiras – com um chinês muito mais velho. Fato que seria um dos embriões do seu romance mais famoso: “O Amante”.
Aos 18 anos, volta a Paris para concluir estudos. Duras se casou, teve um filho com outro homem, dirigiu filmes, viveu e escreveu com intensidade redobrada. Seu trabalho foi associado com o movimento chamado nouveau roman e com o existencialismo. Entre algumas de suas principais obras vale destacar: “O Amante”; “Barragem contra o Pacífico”; “O Homem sentado no corredor”; “O Amante da China do Norte”; “Olhos azuis, cabelos pretos” e “Emily L”. Ficou mundialmente conhecida como a roteirista do filme “Hiroshima, meu amor”, dirigido por Alain Resnais.
De 1943 até 1995 deixou como legado mais de 40 obras escritas e 18 filmes.
A bebida preferida de Marguerite Duras foi por muitos anos o vinho bordeaux, apesar de percorrer um longo caminho de degustação envolvendo uísque, xerez, Campari, conhaque, gim e rum. Predileção que ela explicava com forte criatividade: “Só bebo vinho. Vinho não é álcool”.
José Edward Janczukowicz