A nossa convidada merece uma definição rápida e livre de Peter Pan de saias.
Viajou com amigos para as terras de Oz. A sua aparência mesclava uma garota jovem, quase criança, quase adolescente, que insistia em não querer crescer.
Foi considerada por público e crítica como uma das mais brilhantes e cativantes atrizes e cantoras da “Era do Ouro” dos filmes musicais de Hollywood.
Nasceu Frances Ethel Gumm, 10 de junho de 1922, em Minnesota, EUA.
Menina prodígio, aos dois anos e meio cantou no coro da Igreja Episcopal onde foi batizada.
Com as irmãs mais velhas, formou um grupo de Vaudeville, The Gumm Sisters, depois The Garlam Sisters. Nesse período, a nossa homenageada adotou o nome Judy Garland.
Em 1935, descoberta por Busby Berkeley, foi contratada pela Metro-Goldwyn-Mayer. Um sonho e um pesadelo. A vida real dava sinais de presença, mesmo para uma garota de 13 anos.
Em príncípio, o estúdio contratou mas não sabia como encaixá-la. Parecia mais velha do que a grande estrela infantil da épóca, Shirley Temple, da Fox. Era muito jovem, com sua aparência franzina, para qualquer papel adulto. E por motivos escrotos era vista com antipatia pelo grande chefão da Metro, Louis B. Mayer.
A primeira volta por cima aconteceu quando o estúdio teve a ideia de formar um par entre Judy e Mickey Rooney. Trabalharam juntos em cinco filmes e o sucesso foi grandioso.
A verdadeira consagração nas telas acontece em 1938. Judy conseguiu o papel de Dorothy Gale em “O Mágico de Oz”, e cantou o sucesso pelo qual sempre seria identificada e lembrada: “Over the Rainbow”.
Melhor impossível. Pela sua maravilhosa interpretação, recebeu um Oscar Juvenil. Tinha apenas 18 anos. Outros prêmios, reconhecimentos do seu trabalho e talento, viriam em 1954, com o filme “A Star Is Born” e foi a primeira atriz a receber o Prêmio Cecil B. DeMille, em 1962.
Uma carreira curta e vitoriosa: 36 filmes.
Mas, a vida pessoal de Judy encontrou muitas pedras no caminho. Poucas pessoas sabem exatamente “quantos e quais tombos ela levou”.
Lembram da parceria com Mickey Rooney? O ritmo das filmagens e promoções, impostos aos dois, era frenético. Constantemente, como outros artistas, consumiam anfetaminas e barbitúricos para dormir. Garland migrou em outros vícios, como a bebida.
Alimentado pela “bronca” do chefão da Metro, Louis B. Mayer, Judy enfrentava apelidos como minha “pequena corcunda” e outros que minavam a autoestima de nossa homenageada. Dizem que estas piadinhas do senhor Mayer eram uma vingança ao fato dele ter assediado sexualmente Judy e “levado um belo pé na bunda”. Negativa inimaginável para a época.
O clima de baixa estima, no entanto, sempre caminhou com Judy Garland. Sua vida pessoal era no mínimo desregrada. A bebida e os remédios para dormir e acordar sempre presentes. Teve cinco maridos oficiais. Quatro casamentos terminaram em divórcio.
Judy fazia parte da famosa turma do Sinatra, que tinha a sua gang sempre reunida. Numa eterna farra. Como definiu um estudioso: Hollywood era uma grande festa do copo. John Wayne, W.C. Fields, Errol Flynn, Judy, Sinatra e sua gang, Ava Gardner, Robert Mitchum… essa turma toda bebeu o equivalente a inúmeras piscinas olímpicas.
Seria muito desonesto escrever sobre Judy Garland sem citar a extrema adimiração que ela obteve em vida pelos homossexuais e manteve assim que partiu para um outro estágio. Um estudioso a definiu assim: “Ela tinha um poder gay enorme, assim como Barbra Streisend e Madonna”. Tanto que antigos homossexuais se identificavam com um código: amigos de Dorothy.
Pesquisadores contam que no dia da morte de nossa homenageada, o bar Stonewall, reduto de gays e travestis, sempre humilhados por policias preconceituosos e corruptos, estava de luto. Alguns, choravam. Outros faziam um brinde à “Santa Judy”. Seus discos foram tocados exaustivamente. Depois, à uma da manhã, os policiais chegaram. Eles escolheram a noite errada, o lugar errado e a cidade errada.
Esta rebelião é considerada o início do movimento homossexual.
E porque Judy Garland?
O psiquiatra Lawrence Hattere responde: “Judy tomou porrada da vida, se preparou para os combates e se tornou mais masculina, tendo o poder que os gays gostariam de ter.”
José Edward Janczukowicz